O preço da anulação

Atendi uma paciente muito querida hoje pela manhã. Ela passou anos num casamento onde precisou anular-se para dar conta da relação. Sua história não é diferente de milhares de outras mulheres. Ela cresceu em um ambiente onde também foi podada e não podia bater suas asinhas. É fácil falar do outro, mas só ela sabe o quanto foi difícil anular-se constantemente. O preço disso? Infinitas somatizações e um sentimento constante de que sua vida estava passando e sua felicidade estava cada vez mais longe.

Mas ela enfrentou esse obstáculo e decidiu que seria hora de lutar por sua felicidade. Teve que enfrentar muitas resistências, dela e de seu marido (atualmente ex.). Sou testemunha o quanto foi difícil, mas ela conseguiu. Atualmente encontra-se em ascensão e em processo de alta comigo. Uma luta diária que ela tem que enfrentar para evitar cair em relacionamentos onde a anulação predomina. Um padrão destrutivo que ela aprendeu desde sua infância.

Qual o preço de nossas anulações? Por que nos anulamos tanto? Algo precisa ser refletido para  conhecermos nós mesmos. Colocar a culpa no outro é fácil, pois assim evitamos confrontar nossos fantasmas. Mas por que nos prendemos à essas relações? Por que esperamos tanto do outro em troca do nosso abandono? Agimos corretamente quando nos anulamos? Pense nisso. Talvez possa ser uma forma que encontramos de controlar o outro, pois quando nos anulamos queremos que o outro reconheça e faça por merecer essa anulação. Mas por outro lado, fazemos isso por que não conseguimos perceber que esse não é um caminho saudável. Outra possibilidade é quando crescemos acreditando que é assim que devemos agir com os outros, sempre doando mais e nada recebendo. Não vou debater aqui as razões que lhe fez agir em segundo plano, mas sim pedir que reflita suas atitudes. Entenda que sempre há tempo para fazer diferente, e que é possível sim valorizar-se e esperar mais de suas relações.

Gostaria de deixar um parabéns para esta paciente e dizer que todos podemos melhorar.

Com carinho.

Mariza Matheus